quinta-feira, 20 de setembro de 2012


A tentação da guerra

Os policiais do Estado de São Paulo vivem momentos de apreensão: no último final de semana, dois policiais foram mortos, fazendo com que as corporações alcançassem o nível de quase cinquenta mortes de seus agentes neste ano, o que representa o dobro do ano passado, quando morreram 24 policiais entre janeiro e agosto. As mortes de policiais ocorrem após uma ação das Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (ROTA) em que nove suspeitos foram mortos.
Segundo divulgou o G1, “O Comando da PM no Estado e a SSP não comentaram o alto número de mortes de policiais e nem apontaram razões para isso. A secretaria, por meio de assessoria de imprensa, informou que por enquanto não dá para relacionar as execuções ocorridas em Piracicaba e em Várzea Paulista, onde nove pessoas morreram na terça-feira (11) em um tiroteio com policiais da Rota (Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar)”. Por outro lado, a imprensa divulgou que policiais foram orientados pelas corporações para “ficar em alerta”:
Oficialmente, a Polícia Militar diz que é cedo para tirar conclusões, mas confirma que “todos policiais militares receberam orientações no tocante à segurança durante o horário de serviço e de folga”. No último fim de semana, dois policiais militares foram assassinados em cidades do interior de São Paulo.
De acordo com o Sindicato dos Policiais Civis (Sinpol) de Ribeirão Preto, em uma ligação entre integrantes do PCC (Primeiro Comando da Capital), que foi interceptada, bandidos falavam sobre a execução de policiais militares: dois da região de DDD 16 e um do DDD 19. Os policiais assassinados no fim de semana são de São Carlos e Araraquara, ambos DDD 16. Porém, novas informações apontam que mais uma morte da área 16 estaria nos planos da facção criminosa.
Em conversas com policiais, a reportagem apurou que eles foram orientados a não retirarem o colete a prova de balas até chegar em casa, a prestar atenção para ver se não estão sendo seguidos e não frequentarem locais considerados de risco como bares, boates e locais próximos às favelas.
Ameaças
Com as mortes do último fim de semana, o clima de medo aumenta. No domingo, uma escrivã da Polícia Civil e um agente penitenciário, ambos de Ribeirão Preto, registraram boletins de ocorrência de ameaças que sofreram.
Na tarde de domingo, uma escrivã foi seguida por homens dentro de um shopping da zona Leste. Segundo o boletim de ocorrência, a mulher, de 48 anos, estava na praça de alimentação do Novo Shopping quando percebeu que estava sendo seguida por três homens. A escrivã reconheceu um deles, que já teria passagens na polícia. Ela comunicou um segurança do shopping que estava sendo seguida.
A Polícia Militar foi acionada. Porém, os três homens e mais um que estava escondido atrás de uma pilastra saíram pelo corredor de carga e descarga do shopping. Na sala de monitoramento de câmeras, a escrivã viu que os quatro entraram em um carro onde mais dois homens os aguardavam.
Na noite de domingo, um agente penitenciário foi ameaçado por um preso. Segundo o agente que trabalha na Penitenciária de Ribeirão Preto, o preso começou a bater na porta e a gritar “quando eu sair daqui, nós vamos conversar”.
Neste contexto, sempre há o risco de uma assimilação desesperada dos policiais do que pode ocorrer, propagando-se um clima de revanchismo e retaliações que podem fazer com que inocentes (inclusive policiais) sejam atingidos, e a legalidade desrespeitada. A ansiedade própria do receio de ser atingido é um dos fatores geradores de abusos, enganos e distorções.
O que se espera é que as autoridades do estado não sustentem discursos irresponsáveis conclamando a tropa para uma guerra que só tem como vítima aqueles que vivem o cotidiano das ruas, e sequer tangencia aqueles que guardam-se em seus gabinetes. Este é um momento de praticar inteligência e atuar cirurgicamente pautado em informações qualificadas.
Os policiais precisam entender que, primeiro, admitir vinganças e repressão gratuita é alimentar o que tentamos combater. Segundo, devem assimilar quem ganha e quem perde com este clima de terror propício a certos interesses inconfessáveis à opinião pública – principalmente em um momento eleitoral. Em poucas palavras: a quem pertence esta “guerra”?

Autor:  - Tenente da Polícia Militar da Bahia, associado ao Fórum Brasileiro de Segurança Pública e graduando em Filosofia pela UEFS-BA. | Contato: abordagempolicial@gmail.com

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